Lino Rossi está de volta


Lino Rossi diz que não é sanguessuga nem desonesto e que sua prisão foi 'jogo de cena'

“Foi tudo um jogo de cena, quiseram festa, tiveram uma festa”, assim reagiu o ex-deputado federal Lino Rossi, do PP mato-grossense, ao ser questionado sobre sua participação na quadrilha que ficou conhecida como máfia dos sanguessugas, em entrevista ao vivo mostrada neste domingo no programa Ponto de Vista (TV Rondon), apresentado pelo publicitário Onofre Filho. Foi a primeira vez que Rossi narrou sua versão por acreditar que antes “não seria compreendido”.

Evasivo em quase todas as questões, Lino Rossi ficou no ar por ao menos duas horas. Telespectadores e o apresentador ora encurralaram ora engrandeceram o ex-parlamentar.
Lino Rossi foi preso no dia 13 de agosto deste ano, no aeroporto de Brasília. Ele havia sido denunciado dois meses antes por estes crimes: formação de quadrilha, fraude em licitação e lavagem de dinheiro.

Para o MPF (Ministério Público Federal), que moveu a denúncia, o ex-deputado praticara crime de corrupção passiva por 108 vezes. Ele responde hoje os processos na Justiça Federal em liberdade e, se considerado culpado, pode retornar à cadeia.

Rossi disse que não teve relação com emendas ligadas à saúde, meio usado pela quadrilha para superfaturar os preços das ambulâncias que eram negociadas pelo Ministério da Saúde com as prefeituras do Brasil, ao menos 70 em Mato Grosso. Quem pagava os veículos era o dinheiro público.

‘QUASE ACREDITEI!’
A empresa que vencia as licitações de maneira fraudulenta segundo o MPF era a Planam, com escritório em Cuiabá e propriedade de Darci José Vedoin, conhecido de Rossi. Quando a Planam ficava de fora ganhava a concorrência uma outra que, afirmam os investigadores, também tinha o domínio de Vedoin.

Já para o MPF, Lino Rossi recebera algo em torno de R$ 3 milhões em propina da máfia. “A operação [investigação da PF] foi tão orquestrada que quase acreditei que tinha recebido os R$ 3 milhões”, disse o ex-parlamentar na entrevista
.
“Nego peremptoriamente as acusações”, encurtou a defesa por acreditar que precisaria de mais tempo. O ex-parlamentar foi preso em Brasília, segundo o MPF, por ter sumido de Cuiabá e o oficial de justiça queria notificá-lo havia um mês para participar de uma audiência. Rossi disse que isso é mentira.

Quando questionado por um telespectador que se identificara como Alfredo sobre a participação na quadrilha, Rossi rebateu negando que era o operador dos sanguessugas, como afirma o MPF, e ainda culpou o governo de Lula.
‘DESVIANDO O FOCO’
Rossi disse que à época do desmantelamento da máfia dos sanguessugas, a Polícia Federal investigava o chamado “valerioduto” [suposto esquema de financiamento irregular de campanha, chefiado pelo publicitário Marcos Valério] e isso poderia comprometer a reeleição de Lula.
Por manobra do ex-ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, afirmou o ex-parlamentar, a Polícia Federal teria esfriado as investigações acerca do esquema valerioduto e centrado fogo na quadrilha que negociava as ambulâncias.

De acordo com a Polícia Federal, os sanguessugas eram investigados desde o ano de 2001. A saída de Rossi quando comparou o valerioduto com a trama da compra das ambulâncias: “o Vedoin teria recebido R$ 100 milhões, e o Marcos Valério? O que foi feito foi transferir a crise do Palácio para Congresso”.

Além de Rossi, foram apontados como supostos envolvidos na máfia dos sanguessugas cerca de 60 parlamentares, 30 dos quais já denunciados pelo MPF.
‘CADEIA NELE’
Quanto à relação com Darci Vedoin, Rossi se expressou de dois modos durante o diálogo com Onofre Filho: um deles para elogiar e outro para puni-lo, se culpado for.
Rossi disse que respeita Vedoin porque o empresário denunciado contribuiu com o programa que ele apresentava o “Cadeia Neles”. Darci teria dado a Rossi 10 mil sacolões, mil cadeiras de roda, colchões, materiais que, segundo o ex-parlamentar eram distribuídos aos carentes de Cuiabá e Várzea Grande.

Em agosto do ano passado, Rossi disse em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, que recebera também do empresário Darci Vedoin eletrodomésticos e até 75 mil salsichas, além de um ônibus e uma carreta emprestados. “Darci me ajudou na campanha”, disse ele que contou na entrevista ter recebido ainda cheques do empresário.
‘CORRUPTO INSERIDO’
Em dado momento do programa, um telespectador pergunta ao ex-parlamentar o que acha de políticos corruptos. A resposta foi escorregadia: disse ser contra o corrupto “comprovadamente” safado, ladrão. Já quando a político “inserido” como corrupto de modo injusto, apontou ele como exemplo, o caso deve ser tratado com reservas.

E se o Darci Vedoin for considerado culpado, o que o senhor tem a dizer, perguntou outro telespectador por meio de telefonemas atendidos pela produção do programa de Onofre Filho. “Se houve picaretagem, safadeza, cadeia é o lugar dele”, disse o ex-parlamentar.
‘A TRAMA’
Logo depois, Rossi volta a defender Vedoin, ao dizer que as licitações eram ganhas pela Planam porque a empresa ia atrás de todas as concorrências.

Já para o MPF, o esquema da Planam era outro, isto é, fraudulento. Diz trecho de uma reportagem publicada na Folha de São Paulo: a Planam era chefiada por Darci e tinha membros infiltrados na Câmara dos Deputados, no Ministério da Saúde e na Associação do Mato Grosso.
O primeiro passo da ação da quadrilha, diz a reportagem, era o contato com os prefeitos interessados. O responsável pelo contato seria José Wagner dos Santos [também denunciado pelo MPF].

Nessa conversa com os prefeitos, ele dizia que poderia entregar uma ambulância completa antes do prefeito consegui-la pelos trâmites normais. Com isso, o prefeito ficaria livre de toda a burocracia e não teria de fazer nenhum esforço.

Passo seguinte: a quadrilha acionava assessores de parlamentares que preparavam emendas a serem apresentadas por deputados e senadores. Negócio fechado. A Planam montava as ambulâncias e as entregava aos prefeitos. A venda era superfaturada em até 110%. A trama funcionava desde 2001. A família Vedoin teria arrecadao R$ 110 milhões por entregar 1.000 ambulâncias.

Rossi, contudo, disse que seria impossível conduzir o esquema porque uma ambulância só era negociada após avaliação do Ministério de Saúde, Tribunal de Contas da União, Tribunal de Contas do Estado da União e as Câmaras Municipais. Investigação conduzida pelo MPF, assegura que a máfia dos s
anguessugas tinha ramificações tanto no Congresso quanto no Ministério da Saúde.

‘O RETORNO’
Lino Rossi anunciou que estréia ainda este ano um programa na TV Rondon e outro na emissora de rádio Cuiabana. E mandou um recado aos colegas de profissão: “Vou falar de igual para igual com crápulas da imprensa”. Logo depois, ele disse que quando fora preso em Brasília um veículo de comunicação o qual não citara o nome divulgou que para não ser capturado Rossi teria pedido ajuda de uma igreja.

“Quem viver verá. Vou arrancar o punhal das minhas costas”, disse.
Falou mais. “Aviso aos incautos: curvo, mas não quebro, não sou sanguessuga, não sou desonesto. Quem se abaixa demais mostra o que não deve”.

Ele disse também que quando apresentava programas na tevê e no rádio era “um vendedor de ilusões”, e que agora vai “adotar uma prática diferente”
.
Ao invés de recorrer à iniciativa privada para conseguir ajuda aos carentes, vai atrás do poder público. Garantiu que não quer mais ser político.

O publícitário e apresentador Onofre Ribeiro fechou o programa Ponto de Vista desejando boas-vindas a Rossi, mas fez uma advertência. Mais ou menos assim: "estamos torcendo por você, mas se errar vamos questioná-lo". O ex-parlamentar concordou balançando a cabeça.

Um comentário:

Unknown disse...
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